Jornada para a reflexão

Como se houvesse que reflectir apenas uma vez cada dois anos... Não nos sobrava reflectir um bocadinho cada dia, correria tudo muito melhor! Desta volta acho que a classe política ofereceu-nos uma boa amostra de prepotência e arrogância. Faltou o sentido crítico, a fidelidade ao que se presuporia que havia de ser um debate inteligente. Digo isto porque caberia supor que os políticos que são de todos nós os que mais tempo dedicam a cuidar das coisas comuns, além disso cobrando... como é que podem fazer tal ridículo? bom é verdade, uns mais do que outros... eu também tenho filias e fobias. Mas o fodido é que, sem querer cair no tópico de "a política dá nojo", na verdade devíamos reconhecer que não deixam de ser um reflexo do que somos, como mínimo do que permitimos que seja e aconteça... Péssima imagem que dão de nós-outros.

Os comícios destacaram mais que sempre pela monopolização nos média de quem não se apresenta, sobretudo pelos partidos nacionalistas espanhois, que convertiram o espaço público numa arena de batalha de série b - os filmes de série z, são bem mais dignos - deixando bem pouco espaço para a discussão de programas e ideias que se presupõe a uma democracia liberal no Ocidente capitalista.
A realidade é bem diferente, mimetismo total nas propostas, ex-abruptos a cada segundo, promesas disparatadas... E pouco fundo, pouca vontade de mudar, já não digo estruturalmente mas superficialmente, o sistema de relações e coberturas sociais vigentes. O conformismo é outra modalidade de consumo se ambos não são irmãos siameses. Curiosamente cada vez abunda mais uma espécie de inconformismo que cheira a oportunismo e abuso.

Apenas fica a esperança de as coisas não piorarem e acreditar que o pior só é capaz de arrastar aos outros. Sem esquerda não há esperança, e desta há muito pouca acô. Deixar fazer-deixar passar. Uma celulose no pátio e um enlace de autoestrada por baixo da cama enquanto esta não for expropiada. Um porto exterior no balcão e o desemprego no frigorífico. É mau o que fazemos, é péssimo o que não fazemos. Somos o que consumimos e o que não evitamos, mas só se esquecermos o pior: a situação de quem decote nos bate na porta.